A desinformação como projeto político
Fenômeno que não se reduz à disseminação de notícias falsas (grave) e nem se trata de acidente de percurso numa sociedade democrática

Um conjunto de informações baseadas na realidade que é intencionalmente ressignificado para produzir determinados sentidos e beneficiar determinados grupos (podendo haver ou não prejuízo para outros agrupamentos sociais e políticos). Essa é uma definição bastante relevante para pensarmos o fenômeno – complexo – da desinformação no Brasil.
Fenômeno que não se reduz à disseminação de notícias falsas (grave) e nem se trata de acidente de percurso numa sociedade democrática, a desinformação estruturada e estruturante deve ser, ao contrário, observada como um projeto.
Um projeto político que se ancora no macrocenário da comunicação no Brasil, com vários fatores que se aglutinam. A pouca pluralidade dos meios, o acesso precário à informação, a concetração, uma expansão de grupos religiosos com pautas conservadoras e claramente anticiência, uso massivo de WhatsApp, todos esses elementos contribuem para a consolidação de um processo de desinformação.
Estruturada como projeto político, a desinformação leva as pessoas a acreditarem que a desigualdade é uma questão de apertar o cinto e não parar de sonhar, portanto, uma questão individual e não estrutural; ou que a deflação é uma coisa boa para um país.
A desinformação como projeto político ajuda a convencer a população de que todo mundo pode ser empreendedor. Em resumo, a desinformação como projeto político subtrai das pessoas a capacidade crítica, a conexão com a realidade, a ligação com o processo histórico, enfim, a capacidade de pensar, avaliar, analisar.
Pensar, portanto, a desinformação como projeto estruturado implica pensar na configuração midiática do Brasil, implica pensar no discurso de informação como detentor de grande poder simbólico mobilizador, como demonstra Bourdieu (2014).
E como substratos simbólicos de poder, as instituições da mídia corporativa são estruturas organizadas que conquistam a legitimidade de informar e que, no Brasil, se valem de uma concentração da propriedade que impacta o funcionamento da institucionalidade democrática, com a construção de narrativas que reconfiguram o espaço público e as relações políticas. E a própria democracia.